HOJE É ONZE DE AGOSTO
FALAR LATIM, DAR NÓ DE
GRAVATA E BEBER CERVEJA...
QUE TEM ISSO A VER COM
A MORTE DE HERZOG?
Há 55 anos fui aprovado e comecei meu
curso nas Arcadas.
Os veteranos do Onze de Agosto diziam –
Aqui você pode estudar e aprender muita coisa, mas basta falar Latim, saber dar
nó em gravata e saber beber cerveja, que será diplomado e será um bom
advogado...
No correr do curso, além de adotar o nó
de gravata que se desmancha simplesmente puxando, sem dar nó cego, deu pra
entender que o bom advogado não apenas comparece de gravata ao serviço, pois
sabe dar nó em processos, guardando sempre o modo de desfazer o nó... Já quanto
a falar Latim, como os termos do direito romano são em Latim, a linguagem
tabelioa e os termos judiciais utilizam o Latim, o advogado acompanha. Beber
cerveja não nos parecia algo recomendável, mas, agir sem deixar qualquer
sucesso subir à cabeça, isto é saber ser comedido nas bebidas e comidas.
O tempo passou. Alguns trabalhos
jurídicos aconteceram. Problemas me levaram a uma úlcera e aos 40 anos fiquei
sem estômago, ameaçado de só aguentar mais 8 anos se tivesse muito cuidado com
bebidas e comidas... Era começo de 1975.
Tirei a gravata. Deixei de considerar-me
advogado. Fiquei longe do Latim. Beber cerveja? Nem sonhar.
Estava ainda em vigência o AI5. Vi nos
jornais a foto de W.Herzog supostamente acusado de suicídio na prisão.
Dias depois cruzo na rua com um
“camarada” que não sabia que eu há muito havia abandonado os “cumpanheros” por
não concordar com a violência.
Após os cumprimentos e minha explicação
da cirurgia, ele perguntou: “Paga uma cerveja pra mim?”
Concordei. Assentamos num bar do centro
de SP. Não deixei encher meu copo e fui perguntando: “Como se sente com a
repressão?” Responde ele: “Não temos grandes problemas... Estamos infiltrados
em toda parte...” Continuei: “Viu o Herzog? Nenhum de nós pode aceitar
suicídio, após ver aquela foto...”
Após mais uma cerveja ele completou:”Foi
uma bênção para o Partidão essa morte.”
Mais uma cerveja e ele comentou: “Foi um
camarada encarregado de fazer o trabalho... Foi lá e outro camarada lhe abriu o
caminho como amigo que ia consolar o jornalista... E depois, não havia registro
dessa visita.” Revidei: “Mas, como isso pode aproveitar ao PC?” Com uma boa
risada, após esvaziar mais um copo, completa ele:”O Wladô era judeu... Burguês,
classe média. Escrevia muito bem. Porém era contra a revolução armada. Agora
atiramos a culpa nos militares, ao mesmo tempo que ficamos livres de um
companheiro inconveniente”.
Ele já não estaria enxergando bem. Não
percebeu que fiquei gelado. Eu também sabia ter ascendência dos ladinos da
Espanha... Também tinha renda de classe média. Também gostava de escrever e
recebi elogios pelas redações. E também havia deixado os que queriam terror...
Paguei a conta e segui meu caminho, que
passava pelo Largo de São Francisco. Relembrei os tempos de estudante.
Monologuei: “Dar nó de gravata... Assim se foi o Wladô... Beber cerveja? Nem pensar.
Falar Latim? Nem poderia contar isso a ninguém, em Latim ou em qualquer língua!
Como fazer as provas?”
Passei muitos anos relembrando essa
noite, com um nó na garganta.
Hoje é Onze de agosto.
Agora posso dizer – Eu entendi nessa
noite de 1975 o verdadeiro significado de “Saber o que é falar, ou calar, em
Latim; saber dar nó em gravata; saber beber ou não beber cerveja”.
COMENTÁRIO
DIRIA KONGFUTZÉ – A GRANDE
SABEDORIA PARA A PERFEIÇÃO DE NOSSA CONVIVÊNCIA É NÃO FAZER AOS OUTROS O QUE
NÃO QUEREMOS QUE NOS FAÇAM.
9 comentários:
Mário Sanchez, essa história aconteceu com vc, pertence à outro, ou é apenas um conto ficticio? Gostaria de saber, afim de agregar meus estudos sobre o Regime Militar.
Obrigada
Prezada Carol
Foi bom você falar em ficção. Leu?
http://mariosanchezs.blogspot.com.br/2015/10/pessoa-humana-uma-ficcao.html
Caro Mário essa história aconteceu mesmo ?
A morte de Herzog aconteceu sim...
O que disse a polícia, o que assumiram os militares, as interpretações de peritos...E dos camaradas... A Mídia... Cada um que conta o conto acrescenta seu conto...
Se essa história é verdade, hoje já não daria para ser mais específico? A culpabilização dos militares por causa da morte de Herzog praticamente inocentou todo o movimento comunista e terrorista. Por favor, nos ajude a encontrar a verdade.
Versão fantasiosa, muito criativa. Imaginem vocês, dois comunas fazerem uma visita a um recém prisioneiro (preso no dia), sob interrogatório num porão do DOPS, terem a remotíssima chance de se encontrarem com a vítima e executá-la sem serem incomodados pelos agentes federais, em seguida saírem ilesos, passarem assobiando pelas sentinelas à porta do prédio vermelho do Lgo. Gen. Osório e irem tomar umas Brahmas na boca do lixo. KKKKKKKK. NEM EM SONHO CAMARADAS.
Vamos dizeire que tu, Paulo Quaresma, és um ilustre defensor do politicamente correto... E que te encontras em Évora, Portugal... E assim meus colegas do Grupo, bem informados a teu respeito, te perdoem a ficção que fizeste...
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