GLOBALIZAÇÃO E G20
Embaixador Aleksander Iakovenko da
Rússia em Londres fala da Globalização
COMENTÁRIO DO BLOG
Minha tristeza é que ainda não tivemos “civilização” digna desse
nome no Planeta Terra. Temos um belo planeta com belas paisagens, riquezas praticamente
sem uso e sem limite quando bem utilizadas e recicladas, população ainda
incapaz de ocupar todo o planeta e a cada dia com mais conhecimentos, e ainda
com visão para expandir pelo espaço. No entanto, alguma força irracional está
lançando sua sombra escura sobre os atos coletivos, manipulando pouco mais de
0,03% dos cérebros viventes. Quando um homem qualquer se coloca isento dessa
interferência malévola, em qualquer raça ou país, conclui unanimemente em
identidade com todos os pensamentos que se tranqüilizaram em qualquer parte do
mundo.
Só permanecem desejando O FIM (dos outros...) quando são “muito”
ignorantes. Neste discurso de um calejado itinerante russo, só lhe falta
mostrar que já entendeu que os Banqueiros Unificados representam a cabeça “não
pensante” da espécie humana e que sempre cresceu seus ativos “apelando para a
ignorância”. As cabeças pensantes se formam com boa escola de base... coisa que
os banqueiros ignoram.
Assim, corrigindo essa falha e avançando um pouco mais na visão
do futuro natural de um mundo onde as máquinas VÃO SUBSTITUIR TODOS OS SERVIÇOS,
todo ser pensante precisa achar a visão do desemprego total como LIBERTAÇÃO e deve
ver a situação vigente como transgressão à proposta do artigo quatro da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (recomenda abolir a escravidão sob
qualquer das formas em que se esconde).
Sem desmerecer a fala de Iakovenko, peço que leiam as
ponderações dele, acrescentando o que falta em seus pensamentos.
As relações
internacionais, assim como toda a evolução mundial, estão em transição para,
possivelmente, uma nova época histórica. Ao mesmo tempo, estão terminando
processos de diferente duração: desde a Guerra Fria, com sua inércia
intelectual e geoestratégica, até o predomínio de 500 anos do Ocidente na
política, economia e nas finanças globais.
O que está
acontecendo tem razões objetivas e não devemos cair em pânico. É importante
analisarmos os processos operados de forma sensata em um contexto histórico
mais amplo e em termos que extravasem os restritos conceitos ideológicos dos
discursos dos tempos de Guerra Fria. A história e as relações internacionais
não começaram em 1945. Uma visão tão ampla e imparcial das coisas poderia
levar, inclusive, a conclusões encorajadoras e ajudar a identificar um
potencial real para a convergência e a síntese na política euro-atlântica.
Consultar a história
não é apenas útil, mas também necessário. Por exemplo, a Guerra da Criméia
quebrou o equilíbrio europeu, que se manteve em paz durante 40 anos, e se
tornou um ponto de partida para a Primeira Guerra Mundial e todas as tragédias
posteriores da Europa e do mundo no século 20. Foi naquela época que os países
líderes da Europa começaram a demonizar uns aos outros de forma agressiva sob a
bandeira nacionalista para justificar não só a guerra, mas também a subseqüente
humilhação dos países vencidos e sua divisão territorial. Após a Rússia, chegou
a vez da Dinamarca, Áustria, França, e, finalmente, da Alemanha. A ordem européia
e internacional entrou em colapso.
Em meados do século passado, Karl Jaspers escreveu
que havia duas opções de nova ordem mundial: um império global e uma ordem
internacional. A experiência dos últimos 20 anos mostra que a primeira opção é
impossível. Resta, portanto, a segunda.
A experiência
histórica nos ensina que não devemos menosprezar aquilo que temos. Em primeiro
lugar, temos a ONU (Organização das Nações Unidas), criada para lidar com nosso
mundo diverso e multipolar. O confronto bipolar causou deformações do tempo.
Não é possível arrasar tudo para começar a construir a partir do zero, negando
aos outros o "direito à salvação", como tentaram fazer os
bolcheviques e antes deles, os fanáticos puritanos.
A questão é saber
como adaptar a ONU à realidade. A principal característica de nossa época
histórica é a indefinição e uma grande variedade de opções de desenvolvimento
de quaisquer fenômenos. Daí a necessidade da diplomacia possuir um conjunto
flexível de instrumentos. Não há mais razões para volumosas alianças
político-militares semelhantes às criadas no passado. A alternativa é uma
diplomacia de rede e de múltiplas opções. Essa escolha está consagrada no
Conceito de Política Externa da Rússia, aprovado em julho de 2008. Desde
então, essa idéia vem tomando conta de outros países, entre os quais os EUA e o
Reino Unido.
Há um denominador
comum mais importante: os problemas do desenvolvimento assumem importância
primordial para todos os países do mundo. Todo o mundo reconhece que o
desenvolvimento socioeconômico sustentável e o desenvolvimento de outras
esferas é um desafio fundamental de política externa. Isso deve nos unir,
porque, ao contrário da era colonial, o desenvolvimento internacional não
pode mais ser um jogo de soma nula.
Novos desafios e
ameaças tornam ainda mais relevante a necessidade de igualar os níveis de
desenvolvimento, tanto mais que o potencial de crescimento das grandes
economias dinâmicas e dos países em desenvolvimento deve ser a principal fonte
de reativação econômica nos países industrializados. Para acabar com sua
insegurança, eles devem debelar a crise e recuperar sua solvência.
A globalização
(Gordon Brown falou também sobre a ameaça de "desglobalização") deve
ser repensada. Infelizmente, até agora, a globalização exercia as mesmas
funções dos impérios do passado, proporcionando as oportunidades de
desenvolvimento segundo o princípio do jogo de soma zero. Como resultado, só as
camadas populacionais "intensivas em capital" ganhavam com isso, o
que desunia a sociedade. Com fontes de renda no exterior, as camadas abastadas
não se interessavam pelos problemas do desenvolvimento nacional. Parece ter
sido exatamente esse esquema de globalização que se tornou uma das causas da
atual crise nos países ocidentais, crise essa que quase fez desaparecer a
classe média em um país europeu.
Os "novos"
atores conseguirão, mais cedo ou mais tarde, o que estão procurando. Mas isso
vai acontecer com base nos resultados positivos de seu desenvolvimento nacional
entrelaçado com o desenvolvimento de outros. Já os "velhos" atores
devem pensar em como ajudá-los a formular seus objetivos políticos no cenário
internacional de modo a compatibilizá-los com os interesses da comunidade
internacional em geral.
Isso poderia ser
feito no âmbito dos esforços verdadeiramente colaborativos em todo o espectro
de questões internacionais e sob a forma de liderança coletiva dos principais
países do mundo. Esse engajamento mútuo prevê que os países abdiquem da prática
de reação unilateral, inclusive militar, a desafios. Se conseguirmos isso na
busca de uma solução para a crise síria, conseguiremos fazer isso nas demais
questões.
SOBRE O PAPEL DO G20
É de conhecimento geral
que a Rússia assumiu a presidência do G20 desde o último dia 1°. Esse grupo,
que concentra as principais economias do mundo e cobre 90% do PIB mundial e 80%
do comércio global, foi criado como um instrumento para coordenar os esforços
internacionais na tentativa de fomentar a sustentabilidade e o crescimento
econômico, gerenciar e responder a crises.
Assim sendo, a Rússia está
disposta a trabalhar com seus parceiros para desenvolver novas idéias e
mecanismos eficazes destinados a apoiar o crescimento econômico e prevenir
novas crises no futuro. A presidência do G20 também dá à Rússia uma
oportunidade de abordar objetivos econômicos do país a longo prazo,
consolidar a experiência do conselho internacional e compartilhá-la com os
outros membros do grupo e de toda a comunidade internacional.
Desde a 1ª reunião de
cúpula do G20 em 2008, os países participantes conseguiram deter a queda
econômica e reforçar o controle sobre os sistemas financeiros nacionais,
inclusive com o apoio ativo do governo russo. Juntos, estamos promovendo uma
transformação sistêmica da arquitetura econômica e financeira internacional,
além de proporcionar máxima proteção contra riscos, reforçar a confiança mútua
e impulsionar o desenvolvimento sustentável e equilibrado da economia mundial.
Quanto aos objetivos da
Rússia na presidência do G20, o país decidiu não introduzir quaisquer novos (em
essência) itens à agenda, mas concentrar-se no tradicional caminho de apoio a
um crescimento sustentável, crescimento equilibrado e abrangente, além da
criação de empregos em todo o mundo.
Nós, russos, gostaríamos
de garantir a continuidade do diálogo sobre todas as questões existentes para
dar sequência à implementação dos compromissos anteriores. Para atender a esse
objetivo estratégico, estamos planejando concentrar nossos esforços comuns nas
três prioridades que visam iniciar o novo ciclo de crescimento da economia
mundial e impulsionar o crescimento: criação de emprego e oportunidades de
investimento, confiança e transparência dos mercados, e regulamentação eficaz
do mercado.
Além da agenda tradicional
do G20, dois novos temas financeiros serão adicionados, isto é, financiamento
para investimentos e empréstimo contraído pelo Estado e a sustentabilidade da
dívida pública. Temos grande expectativa de coordenar políticas que possam ser
adotadas para estimular a expansão e desenvolvimento de fontes de crescimento a
longo prazo, bem como discutir o futuro de empréstimos soberanos na abordagem
dos compromissos nacionais em um conjunto de regras internacionais.
De modo a garantir a
continuidade e implementação dos compromissos anteriores, vamos trabalhar com
nossos parceiros para avançar questões tradicionalmente vitais na agenda do
G20, tais como a situação econômica mundial, a implementação do Acordo-Quadro
para o Crescimento Forte, Sustentável e Equilibrado, a facilitação da criação
de empregos, a reforma monetária e da regulamentação financeira e os sistemas
de supervisão, incluindo a reforma do sistema de cotas do FMI, e a
manutenção da estabilidade nos mercados globais de energia, intensificando o
desenvolvimento internacional, fortalecendo o comércio multilateral e
combatendo a corrupção.
Vamos começar com a
atualização de nossos compromissos no âmbito do Acordo-Quadro para o
Crescimento Sustentável. De um modo geral, estamos atualmente enfrentando uma
situação muito delicada ao ver que os compromissos nem sempre coincidem com as
ações políticas reais. Temos a intenção de unir esforços com nossos parceiros a
fim de incentivar as principais economias a cumprir seus compromissos,
sobretudo em termos de implementação das promessas relacionadas aos déficits
orçamentais e os coeficientes de dívida, conforme acordado nas cúpulas
anteriores, incluindo a reunião dos líderes realizada na cidade de Toronto em
2010.
Também vamos insistir na
implementação da agenda de uma ampla reforma de regulamentação financeira, onde
o G20 já alcançou alguns resultados impressionantes, como, por exemplo, no
contexto da institucionalização do Conselho de Estabilidade Financeira e no
acordo de Basiléia III, entre outros.
A Rússia se propõe a uma
abordagem pragmática e norteada para resultados, o que implica a racionalização
dos formatos de trabalho e reuniões ao longo de duas faixas centrais –
ministérios das Finanças e os grupos de trabalho relevantes. A inovação da
presidência será uma reunião conjunta dos ministros das Finanças e do Trabalho.
A prática mostra que as
medidas globais só são eficazes quando baseadas no maior número possível de
pontos de vista e levam em conta os interesses dos diferentes grupos. No
primeiro dia da presidência russa no G20, Vladimir Pútin, presidente da Rússia,
ressaltou que o país está aberto ao diálogo e pronto para a mais ampla possível
cooperação construtiva para atingir os objetivos do G20.
Para garantir a
transparência, legitimidade e eficiência do G20, a presidência russa planeja
realizar extensas consultas com todas as partes interessadas, incluindo países
que não integram o G20, organizações internacionais, setor privado, sindicatos
de comércio, sociedade civil, jovens, grupos de reflexão e círculos acadêmicos,
visando a produção de uma sinergia intersetorial e, assim, aumentar os
benefícios para todos.
Nosso objetivo comum é
abordar e tentar resolver os problemas mais graves enfrentados pela economia
global, garantir seu crescimento sustentável em benefício dos cidadãos do mundo
inteiro. Esperamos que a presidência da Rússia no G20 ajude a consolidar os
esforços internacionais e a melhorar nossa coordenação nessa tarefa
ambiciosa.
Aleksandr Iakovenko é embaixador da Rússia no Reino
Unido
- Antes ocupava o cargo de vice-ministro dos
Negócios Estrangeiros da Federação Russa.
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