OLAVO
DE CARVALHO EM TRÊS ARTIGOS
COMENTARIO PRÉVIO – leiam os textos perdoando ao Olavo seu
desconhecimento de História, especialmente as “comissões da Verdade” que a reescrevem
no interesse dos vencedores. Prestem atenção – o único sistema em vigor no
mundo desde a saída das cavernas é ESCRAVAGISMO. Na sequência do tempo se
cristalizaram três classes de Máfias Escravagistas, todas em disputa pelo
domínio ampliado, todas totalmente avessas à informação verdadeira, dispostas a
aliar-se para impedir que o resto dos seres humanos se libertem delas, e todas
prontas para assaltar seus próprios parceiros se bobearem... São – Religiões,
Ideologias e Grupos Econômicos. O que as diferencia é que a variedade mais
cínica são as Religiões porque prometem o paraíso aos seus escravos que se
comportarem, mas só para depois da morte... As Ideologias prometem o mesmo
paraíso, como religiões que são, mas só num futuro imprevisível que nunca
chegará porque não interessa aos chefões... A terceira espécie promete
riquezas, prazeres e poderes PRA JÁ! Desde que o recruta suje as mãos para ter
seu quinhão e assim fique com a corda no pescoço pra ser destruído quando
convier...
O único que desejamos chama-se LIBERTAÇÃO. Queremos viver em um
Condomínio de respeito mútuo com verdade, prosperidade, meritocracia e
propriedade honesta respeitada, sem nenhuma IMPOSTURA mafiosa estatizante. NESTE
BLOG espalhamos muitos dados, projetos, estudos, para que entendam.
OS
DONOS DO MUNDO - Olavo de Carvalho
Diário
do Comércio, 21 de fevereiro de 2011
As
forças históricas que hoje disputam o poder no mundo articulam-se em três
projetos de dominação global: o “russo-chinês” (ou “eurasiano”), o “ocidental”
(às vezes chamado erroneamente “anglo-americano”) e o “islâmico”.
Cada
um tem uma história bem documentada, mostrando suas origens remotas, as
transformações que sofreu ao longo do tempo e o estado atual da sua implementação.
Os
agentes que os personificam são respectivamente:
1.
A elite governante da Rússia e da China, especialmente os serviços secretos
desses dois países.
2.
A elite financeira ocidental, tal como representada especialmente no Clube
Bilderberg, no Council of Foreign Relations e na Comissão Trilateral.
3.
A Fraternidade Muçulmana, as lideranças religiosas de vários países islâmicos e
alguns governos de países muçulmanos.
Desses
três agentes, só o primeiro pode ser concebido em termos estritamente geopolíticos,
já que seus planos e ações correspondem a interesses nacionais e regionais bem
definidos. O segundo, que está mais avançado na consecução de seus planos de
governo mundial, coloca-se explicitamente acima de quaisquer interesses
nacionais, inclusive os dos países onde se originou e que lhe servem de base de
operações. No terceiro, eventuais conflitos de interesses entre os governos
nacionais e o objetivo maior do Califado Universal acabam sempre resolvidos em
favor deste último, que hoje é o grande fator de unificação ideológica do mundo
islâmico.
As
concepções de poder global que esses três agentes se esforçam para realizar são
muito diferentes entre si porque brotam de inspirações heterogêneas e às vezes
incompatíveis.
Embora
em princípio as relações entre eles sejam de competição e disputa, às vezes até
militar, existem imensas zonas de fusão e colaboração, ainda que móveis e
cambiantes. Este fenômeno desorienta os observadores, produzindo toda sorte de
interpretações deslocadas e fantasiosas, algumas sob a forma de “teorias da
conspiração”, outras como contestações soi disant “realistas” e “científicas”
dessas teorias.
Boa
parte da nebulosidade do quadro mundial é produzida por um fator mais ou menos
constante: cada um dos três agentes tende a interpretar nos seus próprios
termos os planos e ações dos outros dois, em parte para fins de propaganda, em
parte por genuína incompreensão.
As
análises estratégicas de parte a parte refletem, cada uma, o viés ideológico
que lhe é próprio. Ainda que tentando levar em conta a totalidade dos fatores
disponíveis, o esquema russo-chinês privilegia o ponto de vista geopolítico e
militar, o ocidental o ponto de vista econômico, o islâmico a disputa de
religiões.
Essa
diferença reflete, por sua vez, a composição sociológica das classes dominantes
nas áreas geográficas respectivas:
1)
Oriunda da Nomenklatura comunista, a classe dominante russo-chinesa compõe-se
essencialmente de burocratas, agentes dos serviços de inteligência e oficiais
militares.
2)
O predomínio dos financistas e banqueiros internacionais no establishment
ocidental é demasiado conhecido para que seja necessário insistir sobre isso.
3)
Nos vários países do complexo islâmico, a autoridade do governante depende
substancialmente da aprovação da umma – a comunidade multitudinária dos
intérpretes categorizados da religião tradicional. Embora haja ali uma grande
variedade de situações internas, não é exagerado descrever como “teocrática” a
estrutura do poder dominante.
Assim,
pela primeira vez na história do mundo, as três modalidades essenciais do poder
– político-militar, econômico e religioso – encontram-se personificadas em
blocos supranacionais distintos, cada qual com seus planos de dominação mundial
e seus modos de ação peculiares. Isso não quer dizer que cada um não atue em
todos os fronts, mas apenas que suas respectivas visões históricas e
estratégicas são delimitadas, em última instância, pela modalidade de poder que
representam. Não é exagero dizer que o mundo de hoje é objeto de uma disputa
entre militares, banqueiros e pregadores.
Praticamente
todas as análises de política internacional hoje disponíveis na mídia do Brasil
ou de qualquer outro país refletem a subserviência dos “formadores de opinião”
a uma das três correntes em disputa, e, portanto o desconhecimento sistemático
de suas áreas de cumplicidade e ajuda mútua. Esses indivíduos julgam fatos e
“tomam posições” com base nos valores abstratos que lhes são caros, sem nem
mesmo perguntar se suas palavras, na somatória geral dos fatores em jogo no
mundo, não acabarão concorrendo para a glória de tudo quanto odeiam. Os
estrategistas dos três grandes projetos mundiais estão bem alertados disso, e
incluem os comentaristas políticos – jornalísticos ou acadêmicos – entre os
mais preciosos idiotas úteis a seu serviço.
O
QUE ESTÁ ACONTECENDO - Olavo de Carvalho
Diário
do Comércio, 29 de agosto de 2012
A
mitologia infantil que a população consome sob o nome de “jornalismo” ensina
que o Leitmotiv da história mundial desde o começo do século XX foi o conflito
entre “socialismo” e “capitalismo”; conflito que teria chegado a um desenlace
em 1990 com a queda da URSS. Desde então, reza a lenda, vivemos no “império do
livre mercado” sob a hegemonia de um “poder unipolar”, a maldita civilização
judaico-cristã personificada na aliança EUA-Israel, contra a qual se levantam
todos os amantes da liberdade: Vladimir Putin, Fidel Castro, Hugo Chávez,
Mahmud Ahmadinejad, a Fraternidade Muçulmana, o Partido dos Trabalhadores, a
Marcha das Vadias e o Grupo Gay da Bahia.
A
dose de burrice necessária para acreditar nessa coisa não é mensurável por
nenhum padrão humano. No entanto, não conheço um só jornal, noticiário de TV ou
curso universitário, no Brasil, que transmita ao seu público alguma versão
diferente. A história da carochinha tornou-se obrigatória não só como expressão
da verdade dos fatos, mas como medida de aferição da sanidade mental:
contrariá-la é ser diagnosticado, no ato, como louco paranóico e “teórico da
conspiração”.
Como
já me acostumei com esses rótulos e começo até a gostar deles, tomo a liberdade
de passar ao leitor, em versão horrivelmente compacta, algumas informações
básicas e arquiprovadas, mas, reconheço, difíceis de acomodar num cérebro
preguiçoso:
A
suprema elite capitalista do Ocidente – os Morgans, os Rockefellers, gente
desse calibre – jamais moveu uma palha em favor do “capitalismo liberal”. Ao
contrário: tudo fez para promover três tipos de socialismo: o socialismo Fabiano
na Europa Ocidental e nos EUA, o socialismo marxista na URSS, na Europa
Oriental e na China e o nacional-socialismo na Europa central. Gastou, nisso,
rios de dinheiro. Criou o parque industrial soviético no tempo de Stálin, a
indústria bélica do Führer e, mais recentemente, a potência econômico-militar
da China. Nos conflitos entre os três socialismos, o Fabiano saiu sempre
ganhando, porque é o único que tem a seu serviço a tecnologia mais avançada,
uma estratégia flexível para todas as situações e, melhor ainda, todo o tempo do
mundo (o símbolo do fabianismo é uma tartaruga). O nazismo, cumprida sua missão
de liquidar as potências europeias e dividir o mundo entre a elite ocidental e
o movimento comunista (precisamente segundo o plano de Stálin), foi jogado na
lata do lixo da História; do fim da II Guerra até o término da década de 80, só
subsistiu sob a forma evanescente de “neonazismo”, um fantasma acionado pelos
governos comunistas para assustar criancinhas e desviar atenções.
O
fabianismo nunca foi inimigo do socialismo marxista: adora-o e cultiva-o,
porque a economia marxista, incapaz de progresso tecnológico, lhe garante
mercados cativos, e também porque sempre considerou o comunismo um instrumento
da sua estratégia global. Os comunistas, é claro, respondem na mesma moeda,
tentando usar o socialismo Fabiano para seus próprios fins e infiltrando-se em
todos os partidos socialistas democráticos do Ocidente. Os pontos de atrito
inevitáveis são debitados na conta da “cobiça capitalista”, fortalecendo a
autoridade moral dos comunistas ante os idiotas do Terceiro Mundo e, ao mesmo
tempo, ajudando os fabianos a apertar os controles estatais sobre as economias
do Ocidente, estrangulando o capitalismo a pretexto de salvá-lo. Os
“verdadeiros crentes” do liberalismo econômico é que pagam o pato: sem poder
suficiente para interferir nas grandes decisões mundiais, tornaram-se mera
força auxiliar do socialismo Fabiano e, em geral, nem mesmo o percebem, tão
horrível é essa perspectiva para as suas almas sinceras.
Mas
às vezes a concorrência fraterna entre fabianos e comunistas desanda: com a
queda da URSS, aqueles acharam que tinha chegado a hora de colher os lucros da
sua longa colaboração com o comunismo, e caíram sobre a Rússia como abutres,
comprando tudo a preço vil, inclusive as consciências dos velhos comunistas. O
núcleo da elite soviética, porém, a KGB, não consentiu em amoldar-se ao papel
secundário que agora lhe era destinado na nova etapa da revolução mundial.
Admitiu a derrota do comunismo, mas não a sua própria. Levantou a cabeça,
reagiu e criou do nada uma nova estratégia independente, o eurasianismo, mais
hostil a todo o Ocidente do que o comunismo jamais foi. O fabianismo, que nunca
foi de brigar com ninguém e sempre resolveu tudo na base da sedução e da
acomodação (inclusive com Stálin e Mao), finalmente encontrou um oponente que
não aceita negociar. A “Guerra Fria” foi, em grande parte, puro fingimento: a
elite Ocidental concorria com o comunismo sem nada fazer para destruí-lo. Ao
contrário, ajudava-o substancialmente. Putin não é um concorrente: é um inimigo
de verdade, cheio de rancor e sonhos de vingança. A verdadeira “Guerra Fria” só
agora está começando, e aliás já veio quente. A concorrência entre
“capitalismo” e “socialismo” foi um véu ideológico para uso das multidões, mas
a luta entre Oriente e Ocidente é para valer. Não por coincidência, o fiel da
balança é o Oriente Médio, a meio caminho entre os dois blocos. Ali as nações
muçulmanas terão de decidir se continuam servindo de instrumento dócil nas mãos
dos russos, se aceitam a acomodação com a elite Fabiana ou se querem mesmo
fazer do mundo um vasto Califado. A elite Ocidental, que fala pela boca do sr.
Barack Hussein Obama, parece decidida a fazê-las pender nesta última direção,
por motivos que, de tão malignos e imbecis, escapam ao meu desejo de
compreendê-los. Isso, caros leitores, é o que está acontecendo, e nada disso você
lerá na Folha nem no Globo.
QUEM
MANDA NO MUNDO? - Olavo de Carvalho
Diário
do Comércio, 7 de novembro de 2012
Nas
minhas leituras de juventude, mais de quatro décadas atrás, poucas perguntas me
impressionaram como aquela que dá título à segunda parte de La Rebelión de las
Masas, de José Ortega y Gasset: “Quién manda en el mundo?”
O filósofo não a formulava em sentido
metafísico, onde poderia ser respondida por algo como “Deus”, “o acaso”, “a
fatalidade”, mas em sentido geopolítico, e chegava à conclusão de que era uma
lástima a Europa ter perdido seu posto de liderança, cedendo a vaga para a
Rússia e os Estados Unidos.
A resposta parecia deslocada da
pergunta. Estados, nações, governos e continentes não mandam. Quem manda são os
indivíduos e grupos que os controlam. Antes da geopolítica vem a política tout
court. E aí tudo se complica
formidavelmente. É fácil perceber quais Estados ou países predominam sobre os
outros. Mas descobrir quem realmente manda num Estado ou país – e através dele
manda nos outros -- é um desafio intelectual mais atemorizante do que o pode
imaginar o analista político usual.
O verbo “mandar” vem do latim manus
dare: quem manda empresta os seus meios de ação (sua “mão”) para que outros
realizem algo que ele pensou. Um governante dá ordens a seus subordinados, mas,
examinando bem, você verá que só raríssimos governantes, na História – um
Napoleão, um Stálin, um Reagan –, foram eles próprios os criadores das ideias
que realizaram. Os primeiros teóricos do Estado moderno acertaram na mosca
quando inventaram a expressão “poder executivo”: em geral o homem de governo é
o executor de ideias que ele não concebeu nem teria a capacidade – ou o tempo
-- de conceber. E os que conceberam essas ideias foram os mesmos que deram a
ele os meios de chegar ao governo para realizá-las. Quem são eles?
Aplicando a pergunta ao caso específico dos
Estados Unidos, o sociólogo Charles Wright Mills, um dos mentores da New Left,
publicou em 1956 o livro que viria a se tornar um clássico: The Power Elite, “A
Elite do Poder”. A resposta que ele encontrou tomava a forma de uma trama
complicadíssima de grupos, famílias, empresas, serviços secretos oficiais e extraoficiais,
seitas, clubes, igrejas e círculos de relacionamentos pessoais ostensivos e
discretos, incluindo amantes e call girls. A classe política, que culminava na
pessoa do governante nominal, aparecia aí como a espuma na superfície de águas
obscuras. Mills estava, obviamente, na pista certa. Mas ele morreu em 1962 e
não teve a ocasião de presenciar um fenômeno que ele mesmo ajudou a produzir: a
New Left tornou-se ela própria a elite do poder e perdeu todo interesse em
“transparência”. Ao contrário: esmerou-se na opacidade ao ponto de colocar um
completo desconhecido na presidência do país mais poderoso do mundo e cercá-lo
de um muro de proteção que bloqueia toda tentativa de descobrir quem ele é, o
que fez, com quem anda e que interesses representa. Se você quer ter uma ideia
do que anda fazendo a elite do poder nos EUA, tem de buscar informação na outra
ponta do espectro ideológico: os conservadores são os atuais herdeiros da
tradição de estudos inaugurada por Wright Mills.
Graças a eles é que hoje a elite
globalista Fabiana, núcleo vivo do poder por trás de praticamente todos os
governos do Ocidente, se tornou visível na sua composição e em detalhes do seu
modus operandi ao ponto da quase obscenidade, tornando involuntariamente cômica
a insistência de alguns em chamá-la de “poder secreto”. Clique no Google as
expressões “Council on Foreign Relations”, “Bilderberg”, “Trilateral” e
similares, e obterá mais informações do que seus neurônios poderão processar
pelos próximos dez anos -- informações cujo nível de credibilidade varia desde
a prova científica até a rematada invencionice.
Em compensação, pouco ou quase nada se
sabe das fontes profundas do poder na Rússia, na China e nos países islâmicos.
Mesmo as descrições que temos da classe dirigente visível nessas regiões do
globo são esquemáticas e superficiais, sem comparação possível com o meticuloso
Who’s Who da elite ocidental. Isso se explica facilmente pela diferença de
acesso às fontes de informação. Uma coisa é pesquisar em arquivos e bibliotecas
ocidentais, sob a proteção das leis e instituições democráticas, podendo até,
nos EUA, furar a barreira da má-vontade oficial por meio do Freedom of
Information Act. Coisa totalmente diversa é tentar adivinhar o que se passa por
trás das muralhas impenetráveis do establishment russo-chinês.Nem a KGB nem os
serviços secretos da China jamais deram acesso a pesquisadores independentes.
Mesmo os arquivos do Partido Comunista da URSS voltaram a fechar-se após um
breve período de tolerância, motivado não por algum súbito amor à liberdade,
mas pela convicção ilusória, logo desmentida, de que os pesquisadores
ocidentais eram majoritariamente simpáticos ao regime soviético.
No
mundo islâmico, por baixo da classe dirigente e da barafunda de grupos
terroristas estende-se uma rede inabarcável de organizações esotéricas, algumas
milenares, cujo poder de influência é enormemente variado de país para país e
de época para época. Essas organizações, que constituem o núcleo espiritual do
Islam, a garantia profunda da sua unidade civilizacional e, a longo prazo, a
condição de possibilidade da expansão islâmica mundial, continuam perfeitamente
desconhecidas pelos analistas políticos ocidentais, jornalísticos ou mesmo
acadêmicos. A diferença de visibilidade entre os grandes esquemas globalistas
em disputa é fonte de erros catastróficos na descrição do conflito de poder no
mundo. Em artigos vindouros explicarei alguns desses erros.