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RODRIGO CONSTANTINO
Um blog de um liberal sem medo de
polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.
“UMA BREVE TEORIA DO PODER”: O
CETICISMO POLÍTICO DE IVES GANDRA MARTINS
1 de novembro de 2016 - Por Lucas
Berlanza, em Sentinela Lacerdista
Ives Gandra Martins, jurista,
advogado, professor e escritor brasileiro, é uma figura que dispensa maiores
apresentações. Apenas por ser quem é, seu livro Uma breve teoria do poder, que
acaba de ser relançado pela valente editora Resistência Cultural, em uma
terceira edição de belíssimo acabamento, revista, ampliada e atualizada, já
seria automaticamente recomendável. Constato, após a leitura, que a qualidade
prometida pelo nome do autor está entregue.
Ao tecer comentários sobre a obra,
jamais, em minha pequenez, eu poderia me substituir, diga-se de passagem, aos
textos introdutórios, anexados ao conteúdo, redigidos por figuras do calibre de
Ney Prado, Antônio Paim e Ruy Altenfelder. Ainda assim, ainda que algo acanhado
pela grandeza dos nomes, permito-me a ousadia. Em contraposição a essa ousadia,
o autor acredita que seu trabalho tem uma pretensão modesta. Ele já o principia
afastando de sua “breve teoria”, tal como ela já é apresentada no título,
qualquer adjetivação convencional – seja política, econômica, histórica ou
jurídica. “É apenas uma teoria sobre a natureza do homem, no exercício do poder
sobre os outros, quando assume governos”, o que seria, a seu ver, a restrição
fundamental de seu escopo temático, estando ele inclusive não muito à vontade
com a suposta abrangência da própria palavra “teoria” que selecionou, na
ausência de outra melhor.
Minha dificuldade é em compreender sob
que ponto de vista isso pareceria pouca coisa. O professor Ives Gandra está
atacando o ponto fulcral: a real dimensão do humano, sem conferir credibilidade
a abstrações por definição intangíveis, no trato com a questão do poder. O
livro tem uma pretensão analítica, desde já digo que muito bem realizada, maior
do que a que confessa, e das observações que destrincha podemos deduzir
consequências práticas, úteis às nossas presentes reflexões sociais e
políticas.
Essencialmente, Ives Gandra é cético
em relação às grandezas morais do homem e do poder. A busca pela sua posse e
exercício não seria, em caráter geral, consequência de anseios transformadores
motivados por nobres virtudes, ou disposições naturais para servir; conquanto
consinta em que existem, como exceções, os nobres estadistas (entre os quais
ele pontua Churchill e o presidente brasileiro Campos Salles), em geral os
homens querem o poder em uma sanha de ambição pessoal originária “do instinto
de sobrevivência”. O autor compara o homem primitivo aos animais, que disputam
a liderança para se manterem vivos. Entre as primeiras tribos, o objetivo seria
o mesmo: buscar o comando para ter maiores chances pessoais de sobrevivência,
muito embora, justamente por isso, ainda que totalmente em segundo plano, esse
anseio “egoísta” o levasse a aumentar, pelo próprio talento, as chances de
sobrevivência da coletividade.
“Desde os tempos primitivos, o homem
deseja o poder por um instinto de sobrevivência e de comando, em que o servir é
apenas um efeito colateral – mas não necessário – e que o próprio exercício do
poder esconde uma luta pela sobrevivência, a qualquer custo, em patamares
inimagináveis, em face das ambições dos que o procuram”. A partir dessa
premissa, Ives Gandra faz uma viagem, ancorada em extensa e apurada
bibliografia e reveladora de um vastíssimo conhecimento em História, por
diferentes épocas da humanidade – com direito a uma reconstrução curiosíssima
das principais guerras e conflitos em geral da Antiguidade -, pelo
desenvolvimento da questão do poder ao longo de todos os tempos do Homo sapiens
sapiens. Sua conclusão é que esse princípio não se modificou de maneira
substancial, e que variantes dos mesmos anseios e dos mesmos erros ainda
grassam nas diversas sociedades, quer na Babilônia Antiga, quer na Roma dos
césares, quer na era de Napoleão, quer no mundo dos bolivarianos, dos
populistas latino-americanos e dos extremistas islâmicos de hoje em dia.
Essa visão que pode soar pessimista e
demasiado “pé no chão” não exclui a convicção, a nosso ver profundamente
meritória e necessária, na existência de um Direito Natural. Gandra acredita,
como eu mesmo, que existem direitos que “a convivência humana pode criar e
adequar, de acordo com seus interesses, desejos e ideais, conformando a ordem
jurídica de seu povo e de sua comunidade”, mas que há, ao mesmo tempo, aqueles
outros que o direito positivo “apenas reconhece”, tais como “o direito à vida,
à dignidade, à privacidade, à não tortura”. A partir do próprio famigerado e
antiquíssimo Código de Hamurabi, Ives Gandra enxerga que os códigos legais, em
todos os tempos, reconheceram, a despeito de seus desvios e defeitos, a
existência de direitos naturais dos seres humanos. Apenas reconhecer essa
prerrogativa moral não o torna cego ao fato de que existe uma “indesejável
tendência humana de o mais forte terminar por conquistar o poder, dentro das
leis da sociedade em que vive, principalmente nos regimes democráticos, ou fora
delas, desde que tenha força para rompê-las, criando seu próprio espaço
jurídico para justificar o poder”.
Entre ditaduras, democracias e
semidemocracias, algumas das quais pormenorizadas em suas características com
brilhantismo na obra, Ives Gandra enxerga e diagnostica sempre o uso de
diferentes armas – o dinheiro, a demagogia, o que seja – para que os que buscam
e atingem o poder possam mantê-lo e ampliá-lo, tal como o líder fazia nas
tribos primitivas. Destacando, por exemplo, o grave problema da destinação dos
recursos do orçamento para sustentar burocratas confortavelmente instalados na
máquina pública e municiar “amigos do rei” – num raciocínio que grita muito aos
dilemas do Brasil de hoje -, Ives Gandra mostra que o corpo do poder, mesmo com
a presença de códices legais, é constantemente manipulado para sustentar os
privilégios do grupo que trabalha por instalar-se nele.
IVES-GANDRA, Admitindo, a partir do
estudo do poder e de suas ferramentas, o quão pequenos nós somos, Ives Gandra
não avança em dizer que o poder deve ser abolido, que deve ser eliminado. É
aqui que ele recorre a uma referência primordial em sua obra, Montesquieu (além
de Confúcio, o sábio chinês, também fartamente mencionado), que julgava, como
ele, que o homem não é confiável no exercício do poder, e que as leis não são
garantias absolutas contra isso, ainda mais porque o poder pode ser capaz de
modificá-las ou desprezá-las; mas lutar pela solidez de uma lei que reparta as
atribuições dos poderes e os coloque em harmonia tem sido uma importante
conquista da humanidade, ao delegar obrigações aos governantes e não apenas aos
governados; ao sujeitar todos a controles, direitos e deveres, em vez de apenas
prescrever normas para “súditos” de uma autoridade absoluta. A lei regula o
direito positivo e reconhece o direito natural, e ela só se faz implementar a
partir da organização social possibilitada pelo mesmo poder que, entregando-se
aos excessos de si mesmo, pode subvertê-la e agredi-la; é constante o desafio
por manter o equilíbrio possível, diante das imperfeições dessa realidade.
O que Ives Gandra está dizendo com
maestria é que a constatação principal de seu livro não é fácil, não é
otimista, não é agradável, mas importa assumi-la, por responsável e realista. A
despeito de reconhecer a realidade do poder, a sua inevitabilidade, mas ao
mesmo tempo expor esse retrato pouco enobrecedor de sua práxis, Ives Gandra
declara em alto e bom som sua crença muito maior na sociedade do que no poder.
A sociedade, exercendo o poder – também ele – de contestação, introduzindo o
diferente. A sociedade produzindo, desenvolvendo; não, é muito válido destacar,
a sociedade caindo no engodo dos ideólogos e dos revolucionários, os
imperadores da demagogia, que, julgando-se acima desses estreitos limites da
natureza humana, em verdade, ao fim das contas, sofisticam a argumentação
abstrata para um mesmo desejo que anima o homem desde as mais priscas eras.
Promovem, como eu mesmo disse há poucos dias, a “corrupção da realidade”, a
pior de todas as corrupções.
As apreciações sobre as
características específicas da Constituição brasileira e as citações a Gene
Rodenberry e à série de ficção científica Star Trek – pela qual, pelo visto, eu
e o grande Ives Gandra parecemos compartilhar admiração -, agregam ao charme e
à consistência da obra. Próximo à conclusão do livro, porém, certa hesitação me
afasta do pensamento do professor; ao passo que critica a ingenuidade de
Immanuel Kant ao supor que a disseminação de regimes republicanos pelo mundo
seria capaz, em breve, de anular a guerra, Ives Gandra postula que, até o final
do século XXI, deve surgir um Estado Universal, com uma característica jurídica
a ser acatada por toda uma comunidade internacional. “As relações entre as
sociedades tendem a se globalizar, razão pela qual a volta da discussão sobre
um Estado Universal não é de todo afastada, principalmente após a experiência
da União Europeia, que se transformou num ‘Mini-Estado Universal’”. Vejo a proposta com preocupação e acho muito
difícil garantir que tamanho complexo respeitaria a diversidade de culturas e a
soberania das nações; o exemplo comparativo também me parece infeliz,
defrontando-nos hoje com a crise do multiculturalismo e do intervencionismo daquele
bloco europeu, em tempos de Brexit. Antes ele parece evidenciar os problemas da
teoria que as suas virtudes. A História deverá dizer de que lado estará a razão
a esse respeito.
Finalmente, a pretexto de discordar do
mote, que seria especular sobre essa estranha comunidade internacional
imaginária que ainda me parece muito distante da realidade, enterneceu-me o
coração o pensamento do autor em reconhecimento das virtudes nacionais, quando
ele diz que “neste particular, a maneira de ser da civilização lusíada, em que
a integração foi sempre o elemento de maior presença, poderá servir de exemplo.
Haja vista que, em idêntico espaço americano, conseguiu manter um país único,
com variadas formas de cultura, ao contrário da América Espanhola, que se
pulverizou em um número enorme de nações. E a prova maior reside numa
integração consideravelmente mais relevante entre as diversas raças no Brasil
do que em outras nações, ao ponto de todas as culturas que se somaram
posteriormente à portuguesa lá conviverem em perfeita harmonia”.
Gosto do reconhecimento da virtude
simbólica da pluralidade mais harmoniosa – não sem imperfeições, mas mais
harmoniosa – do nosso povo e da nossa cultura, e me sinto em excepcional
companhia ao reconhecer em Ives Gandra alguém que, como eu, mesmo com as
críticas, sobretudo em uma obra que se destina a colocar nossos pés no chão,
não se priva de expressar sua sensibilidade patriótica.
MEU COMENTARIO
Ives Gandra conta em outras
palavras o que venho dizendo – Estamos sob um regime escravocrata e não sabemos
como mudar isso. Acusa ele que isso surgiu desde a era das cavernas por motivos
de sobrevivência. Ele admite as teorias da divisão dos poderes como a
Democracia, porque ele aceita a educação que foi feita para haver governantes e
súditos (escravos). Para mim a educação deve ser feita para formar cidadãos
conscientes de que podem viver em condomínio de informações verdadeiras,
direito irrestrito de prosperar com méritos honestamente aplicados para haver
propriedade pessoal e familiar respeitada. E mais, eu admito que serão os
próprios Escravos Maiores que até hoje pensam, iludidos de que são Donos de todos
os seres humanos, serão eles mesmos que vão proclamar a Libertação de todos, para eles próprios ganharem a libertação de seu pesado jugo que lhes impõe
escravizar, fardo incômodo que precisam atirar fora.
Vejam neste BLOG o programa que proponho.
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