O
TRIÂNGULO DAS BERMUDAS – FICÇÃO
ISTO
É UMA FICÇÃO. Nós todos somos uma ficção de nós e dos que nos encontram.
Podemos parecer reais, mas somos lendas. Sobre algumas coisas os outros não
acreditam no que nós falamos. Em outras até nós sabemos que são simples lendas
pessoais, e estranhos as aceitam como verdades, nos usam, conseguem resultados.
Mais algumas fantasias nós acabamos acreditando nelas e dá certo.
Por
isso, não acredite no que vou contar. Podia ser assim. Mas temos certeza que
não é. Então por que vou contar? E por que você iria ler? Só depois de contar
eu posso avaliar e só depois de ler você vai saber se valeu a pena.
Vamos
direto. É mentira que eu saiba velejar. Aliás, tenho medo até de flutuar com
boia no mar. Bem, estou num pequeno veleiro, com ventos favoráveis, em águas
límpidas no famoso Triângulo das Bermudas. Sim. Ali onde desaparecem navios
inteiros com suas tripulações, tesouros, segredos... aviões perdem-se...
pessoas às vezes reaparecem e nem sabem o que houve. Estou curioso sobre um
possível portal dimensional por ali. Já sei que por todos os oceanos do mundo
existem estatísticas mais numerosas do que aqui. Mas, é aqui que ganhou fama
essa lenda.
Portanto,
é pura coincidência surgir nadando um homem e eu ter uma corda de veleiro com
laço na ponta, atiro essa corda e ele pega. Puxo pra cima e vejo um rapaz de
olhos claros que me cumprimenta em bom inglês londrino e eu, não habituado a
falar inglês, falo com facilidade com ele. Pergunto: quem é você? Que faz por
aí? Responde: meu nome é John. Vim num navio há uns anos e naufragamos.
Pergunto espantado: Há alguns anos? E ele tranquilamente me diz – era o ano de
1796. Quase caio no mar de susto e engasgo ao dizer – 222 anos atrás? E ele diz
– Alguns de nós conseguimos nadar até as costas de uma ilha logo ali... - Ilha? Desse lado? De onde você vem vindo
nunca se registrou ilha nenhuma! É longe? Ele responde – umas três milhas! E eu
contesto – Mas não se vê?
Ele
ri... Pergunto de novo: Ali? A três milhas de meu veleiro? Diz ele – Está bem
encoberta pela miragem das águas produzida pela corrente circular que a
contorna. Eu mesmo perdi de ver suas belas matas e seu planalto ao sair pra
fora dessa corrente marinha circular. Alguém me havia dito que havia um mundo
de demônios e seres humanos dementes após essa saída da correnteza e estou
tentando ver se é verdade. Pelo primeiro que encontro, você, me parece tão
normal como na Ilha. Prossigo perguntando:
-
Mas, havia muita diferença entre a União dos Estados Americanos e a vida nessa
Ilha?
-
Sim! Lá no continente havia sido feita uma Declaração de Direitos dos Cidadãos
para não sermos devorados por um Governo escravagista, do qual os primeiros
colonizadores haviam fugido e que estava tentando impor seus tentáculos de novo
nas nossas vidas. Aqui na Ilha, já estava bem adiantado o processo de Condomínio
Racional.
-
Ah! Vais me contar uma nova UTOPIA? Outra República de Platão? Alguma cidade
não conhecida de Homero? A Cidade de Deus de Sto Agostinho?
-
Não conheci essas ilhas. Só vivi esse tempo todo nesta.
-
E o que você comia? Frutas, trigo, carne, ovos, peixes, raízes, verduras?
tomavam chá?
-
Tea o clock? Também! E sem impostos!
-
É muito caro viver ali?
-
Até hoje, dizendo a verdade, trabalhei muito pouco, comi bem, sempre tive
roupas e calçados de fibra, instrumentos para comunicar e estudar, cada vez
melhores. Morei em meu pequeno apartamento bem iluminado e andei por onde quis,
corri, subi morros e sempre voltei em busca de mais conhecimentos.
Nesse
momento ouvi, como que saindo de seu rosto um chamado – John! John! Você sumiu!
Onde está? E ele falou como se falasse sozinho – estou bem! Passei a corrente
do cerco e estou conversando com um americano num veleiro! E veio outra vez a
voz – estou vendo! Parece boa gente! Veja se não cria confusão! Se precisar,
chame!
Francamente!
Vozes saindo da cara? Não vi nenhum celular, câmera, chip de ouvido...
Ele
pareceu adivinhar minhas dúvidas e passou dois dedos colhendo algo no ouvido e
me mandou estender a mão. Abri a mão e ele me colocou uma espécie de gelatina
invisível na palma, dizendo – geleia dimensional...
Senti
a coisa fria grudar na mão. O barco balançou e eu me agarrei a uma grossa
corda... exclamei:
-
Acho que esmaguei sua geleia! Desculpe-me se vc perdeu seu comunicador...
-
Que nada! Pode falar e ouvir receberem nossos diálogos na Ilha. É dimensional.
A corda não faz nada com ela.
-
Você disse que não trabalha. Come, veste, dorme, estuda, pratica exercícios, há
200 anos! Não está na lista dos vadios? Tem documentos? Tem policiamento?
-
Todos vivem assim na Ilha. Pra que documentos? Meu corpo todo e minhas palavras
identificam quem sou. Quando vou a algum local de abastecimento posso consultar
se comprei demais, devolvo... Sempre tenho muito saldo que posso usar e sou
elogiado avisando que dá pra ir assim mais mil anos.
-
Saldo em dólar?
--
Não! Em coisas! Medidas pelo tempo gasto em fazer.
-
Que rendas pode ter como vadio?
-
É difícil explicar. Eu estudo sempre. Tudo que se propõe eu sou curioso e vou
aprender. Assim se colhem frutas, fazemos sandálias, preparamos nossas
geleias... Sempre há o desafio de aperfeiçoar, e ao acabar a aula vai tudo pros
centros de abastecimento. Ficamos livres de carregar o que fizemos. Às vezes
temos que refazer algo que alguém fez e ninguém usa. Assim se aperfeiçoaram as
geleias.
-
Dizes da geleia dimensional? Ou há outras?
-
Sim! Geleias de sangue, de inteligência, de transmissão de força para as
plantas, barquinhos e veículos aéreos invisíveis, bibliotecas de conhecimentos
pra consultar e muito mais.
-
Isso são geleias? Pra que geleia de sangue? Vampiros?
-
Vocês buscam células tronco? Pelo que li na sua mente... É geleia de sangue.
Faz limpeza e aumenta a vida.
-
Mas então não dá pra parar de estudar e isso é o trabalho... Entendi! Se vc parar de estudar, perde os créditos, né?
-
Você está pensando em haver gente forçada a estudar?
-
Sim! Todas as Utopias se baseiam em haver escravos...
-
Não estou contando uma coisa forçada. Se eu não quiser saber, ninguém me chama.
Se inventarem coisas melhores e eu fui procurar no Centro de abastecimento e
tem coisa diferente, vou aprender... e só por usar já dei crédito aos que o
fizeram e terei uma comissão de consumo. E quem fez tem crédito de produzir. Você
se espanta, por quê? Nada disso existe no seu mundo, que eu vivia? Pelo que
vejo, é verdade que os demônios e os dementes tomam conta de América... Isto
que lhe conto é apenas lógico, racional, normal...
Fiquei
calado um bom tempo, enquanto fiz esforço pra velejar na direção da tal Ilha e
sempre o vento e as águas me levaram pra fora desse círculo.
Perguntei,
curioso – Ali na Ilha não dá ciclones, furacões, temporais?
-
Sim! Às vezes chove forte, passam raios de nuvem em nuvem, trovoadas, mas
nossos estudos já são eficientes o suficiente para desviar.
Toda
minha curiosidade parecia não acabar e o John que parecia impaciente com minha
depressão ao ouvir essa fantasia, foi ficando mais agitado e começou a parecer
muito irritado.
Até
que ele saltou às águas e bracejou rápido contra a força invisível da corrente
circular em ziguezagues e desapareceu da minha vista, tendo antes dirigido um
olhar meio assustado como se eu fosse algum demônio que ele havia contatado.
O
vento me empurrava pra oeste... E ele ia para leste.
Aí
me lembrei da geleia na mão. Tentei enxergar algo na mão, mas, nada! E o
material estava ali, grudado. Eu o sentia. Pensei em falar com alguém da ilha,
em jogar fora...
Assim
foi que ergui a mão e gritei – John! John! Você está bem? Já voltou pra Ilha?
Senti
a geleia trepidar com minha voz e escutei a mão falando – Aqui é o Tig. Já
estamos ajudando o John a escapar da arrebentação que não se vê. Ele ficou um
pouco assustado com suas dúvidas sobre o que ele explicou...
-
Eu percebi... Vocês conhecem o que acontece na América?
-
Sim! Temos captação de suas TVS, jornais, eventos, registros, quanto quisermos.
Não se preocupe com o John. Ele chegou aqui em um lote de gente que naufragou
em furacão. A família dele afogou. Alguns marujos se tornaram membros ótimos da
Ilha. Ele era um deficiente cerebral e fomos mudando até ser normal. Ainda está
aprendendo e por isso deixamos que ele passasse a corrente e ter essa
experiência. Deve ter percebido que ele não falou de sexo, filhos, família? E
aí pode ter pensado que não temos famílias.
Perguntei:
Também não disse algo sobre governo. E quem governa essa ilha racional?
Diz
ele – As mamães! Eu tive problema de ficar sem mamãe muito cedo. Assim tive
problema que detectei logo no John e passei a monitorar. Eu prossegui e apoiei
uma companheira para ser mamãe e aprendi. Mas ele ainda não chegou aí.
Nem
consegui sair do susto! Fiquei mudo! Eu havia sentido nessa curta conversa quanto
somos atrasados... e o adiantado pra mim, nesse reino era um deficiente em
recuperação! E mais! Pajeado por semi-deficiente!
Lembrei
de Einstein dizendo – deve haver no Algures uma Ilha de paz e harmonia, onde
possam viver felizes os homens de boa vontade. Nem terminei de Pensar e Tig me
dizia – Você avançou um pouco mais além dele e por isso procuramos deixar você
ter este contato. Perdoe-me se ficou com algum ressentimento ao saber de parte
do nosso avanço.
Eu
vinha com curiosidade e vontade de saber o que havia no Triângulo das Bermudas.
Fiquei chocado com o avanço dado a um deficiente... e agora me pedem desculpas
se fiquei chocado com saber apenas parte do avanço! Cheguei a pensar em pedir
autorização pra ir ver. Depois disso, francamente, nem sei por quais cargas
d’água eu ainda publico isto. Será que alguém dali ditou esse suposto encontro?
Ruminando ideias ia perguntar se Einstein teria achado a ilha.
-
Nós o achamos, sim! Albert está jovem e o cumprimenta lá do ponto em que ajeita
umas geleias despoluidoras...
-
Bem que o mundo está poluído e precisando delas.
-
Você entendeu mal. Despoluir o Ar, alimentos e água com químicas, vocês mesmos
fazem o serviço. Já na atômica, precisaremos ajudar. E...
-
Então teremos guerra nucelar? Vocês não vão intervir?
-
Calma, deixa terminar. Eu ia dizendo “e...” geleias para defender da poluição
mental ainda estão sendo aperfeiçoadas. Será um longo caminho a percorrer e
temos urgência.
Despedi-me
muito achatado com minhas ideias de melhora humana, nas quais essa ilha do
algures já havia alcançado algo mais, e fiquei pensando em Einstein.
Antes
de dormir estava ouvindo de Tig: Não se espante se receber uma visita do
Albert...
Continuei
o diálogo lembrando ao tal Tig que temos registros de que o homem foi feito por
um povo do espaço que precisava de servidores pra suas finalidades... E ele me
diz:
-
Você chegou a supor que fizeram a nós como ciborgs, ou Inteligência Artificial.
E estaríamos sendo perigosos para eles por escapar do controle, desenvolvendo
caminho próprio.
-
E o Albert, pergunto eu, seria um desses robôs?
-
Então, retruca Tig, será que o Albert, ou Buda, Gandhi, Laotsé poderiam ser um
perigo pros Anunnaki? E, pense bem, por que motivo a Inteligência artificial
que fizermos deve ser pior que nós e vir a nos destruir? Não poderia avançar
para nos fazer melhores? Seria uma questão da geleia que lhe dermos... Acho
evidente que daria menos trabalho pra fazer robôs de harmonia do que robôs da
maldade... Não acha?
À
noite sonhei com Einstein. A visita aconteceu! A ilha existe! As lendas são verdadeiras!
Aí, me desculpem, mas o silêncio vale mais. I do not believe!
PS
– MEU LEITOR ESTÁ CONVIDADO PARA CUIDAR DE fazer UMA GELEIA DO BOM ROBÔ.
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