OU A EXATIDÃO DA IMBECILIDADE COEXISTE COM A PRECISA INCERTEZA DAS
IDEOLOGIAS.
(Heisenberg
estremeceria com a aplicação de seu princípio?)
Navegar é
preciso, viver não é preciso
A frase
afamada por Fernando Pessoa foi originalmente proferida pelo general romano
Pompeu (navegare necesse, vivere non necesse).
João Pereira
Coutinho é um dos melhores jornalistas da língua portuguesa. E Olavo de
Carvalho é um brilhante intelectual que sofre de algumas vicissitudes
psicoideológicas (ou psicopatoideológicas) marcantes. Mas o próprio Coutinho
sofre de vicissitudes semelhantes, mas não tem consciência disso. Enfim as
forças inconscientes continuam a gerir a conduta humana e os intelectuais, é
claro, não estão livres deste gerenciamento primitivo. E neste contexto
pós-freudiano pululam as teorias da conspiração em torno de duas zelites: a globalista e a gramsciana que vai fazer o
marxismo do século XIX ressurgir em meio às cinzas da globalização do século
XXI.
Imaginar é
preciso, viver não é preciso, navegando nas ondas conspiratórias agitadas pelas
ideologias.
Mtnos Calil que
enviou se diz– Nem conservador nem esquerdista. Conservador não é sinônimo de
direitista.
Faz sua observação: Olavo de Carvalho tem espada sarcástica,
mas faz marxismo do avesso
Polemista talentoso, autor tem atitude estranha para um
genuíno conservador, incompatível com suas melhores páginas - 14.dez.2018 FSP -
João Pereira Coutinho
Sou estrangeiro em terra estrangeira. Há vantagens. Uma
delas é ler certas figuras do pedaço com a distância física e intelectual
correspondente.
Olavo de Carvalho é um caso. Sábio para uns; demônio e
charlatão para outros; polemista talentoso para mim, o que não admira: sempre
gostei das diatribes de Camilo Castelo Branco, apesar da minha costela
assumidamente queirosiana. (Eça).
Observação prévia do BLOG
Divirtam-se agora com essa crônica portuguesa NA ÍNTEGRA:
Considero ponto central da discussão: Segundo ele, (O)lavo de
Carvalho) uma “tirania mundial”, um “poder onipresente e invisível” tomou
conta dos centros de poder e governos.
O ARTIGO - Minha
Folha
COMEÇA COM
UMA FOTO - O ideólogo Olavo de Carvalho, 70, na casa de um dos filhos em
Petersburg, na Virgínia (EUA); ele está alojado no lugar enquanto espera a
reforma na sua nova casa, também na região de Richmond, ficar pronta.
O próprio
Olavo de Carvalho, aliás, cita Camilo como uma das suas influências
estilísticas. Não precisava.
A espada
sarcástica do escritor luso trespassa “O Imbecil Coletivo e O Mínimo que Você
Precisa Saber para Não Ser um Idiota” e atinge a sua melhor expressão em peças
violentas, porém divertidas, como “Breve História do Machismo” ou “A Era dos
Masturbadores” (ambos no “Idiota”).
Um dos lados
mais estimáveis do autor está nesses “divertissements” em que o chicote da
sátira é brandido sobre o lombo das ideias feitas.
Numa cultura
que celebra a Juventude (com maiúscula) de forma histérica, ler algumas páginas
sobre a estupidez da espécie —sempre pronta a marchar pelo primeiro ditador que
lhe aparece— é uma forma de profilaxia.
Acontece que
Olavo de Carvalho não se limita a exercícios satíricos. O autor tem uma tese que,
no “Imbecil” e no “Idiota”, domina o fio narrativo.
Segundo ele, uma “tirania mundial”, um “poder onipresente e
invisível” tomou conta dos centros de poder —governos, universidades, mídia,
etc. com o único propósito de realizar, na prática, o que Antonio
Gramsci defendeu na teoria. Uma revolução marxista, nem mais, pelo sequestro
das mentes e das almas.
Esse complô
sinistro determina a vida das nossas democracias, governadas na sombra por
elites venais; mas também se infiltra, como uma metástase diabólica, na educação
e nas relações sociais.
Se ontem
havia “o protesto feminista”, hoje há “a apologia aberta da pedofilia e do
incesto”. Se ontem havia “aulas de grego e latim” nas nossas escolas, hoje “há
seminários de sexo anal”.
Um cínico
diria que a evolução do grego e do latim para o sexo anal está em perfeita
consonância com os hábitos dos clássicos. Mas o caso é sério e Olavo de
Carvalho não está disposto a imitar a direita blasé que, para não sujar as mãos
com a ralé esquerdista, opta pela “espiral do silêncio” —uma relutância ou
desistência de enfrentar o inimigo.
Dizer que
essa versão dos fatos não é convincente seria um gigantesco eufemismo. O
problema da proposta olaviana está, desde logo, na gritante contradição entre a
teoria e a prática: se existe um complô, é caso para perguntar se ele é realmente
onipresente e onipotente.
A situação
democrática atual, em que as massas derrubam as elites nos quatro cantos do
Ocidente, sugere o oposto: a incompetência da “tirania mundial” para conseguir,
pelo menos, uma reles manipulação dos resultados eleitorais a seu favor.
De igual
forma, se a “ideologia” dominante (no sentido marxista do termo) converge para
o mesmo fim —a revolução— podemos dizer que as universidades e a mídia, que
obviamente estão à esquerda, não estão suficientemente à esquerda para uma
lavagem cerebral eficaz.
Claro que é
sempre possível contra argumentar que as reações populares (ou populistas) que
pululam por aí são um triunfo inesperado do homem comum sobre os novos Sábios
de Sião.
Mas Olavo de
Carvalho desautoriza essa esperança. As “reações pontuais e esporádicas” da
plebe contra a marcha inexorável da história “já estão previstas no esquema de
conjunto e canalizadas de antemão no sentido dos resultados pretendidos pela
elite iluminada”.
Pergunta
óbvia: será que os brasileiros que festejaram a eleição de Jair Bolsonaro não
passam de marionetes dessa elite? Eles pensam que são livres; mas vivem apenas
uma ilusão de liberdade porque o resultado do jogo já está determinado desde o
início.
Como é
óbvio, Olavo de Carvalho mimetiza o exato tipo de historicismo que faria as
delícias de um marxista. É uma espécie de marxismo do avesso que se limita a
reviver o maniqueísmo original. Basta trocar “burguesia” por “elite globalista
e fabiana” e a luta de classes continua.
É esse
maniqueísmo que, também em nome da nova luta de classes, permite ao autor olhar
para a esquerda brasileira — “toda ela”, convém notar— como “um bando de
patifes ambiciosos, amorais, maquiavélicos, mentirosos”.
Marx e os seus
herdeiros não diriam melhor sobre toda a classe burguesa, em relação à qual
mantinham uma discordância que não era epistemológica; era moral e,
consequentemente, mortal.
Nesse
quesito, relembro sempre as palavras de Roger Scruton para quem a grande
diferença entre um conservador e um esquerdista está no fato do primeiro, ao
contrário do segundo, ter como objetivo mostrar que o adversário está errado,
não que ele é imoral, desumano ou monstruoso.
Olavo de
Carvalho discorda. E garante que, por detrás de um esquerdista, está sempre
alguém “mau, perverso, falso, deliberado e maquiavélico”. É uma atitude estranha
para um genuíno conservador.
Estranha e
incompatível com as melhores páginas do autor. Não falo apenas das sátiras;
falo dos artigos eruditos sobre os abismos da ideologia; sobre o papel da
consciência, esse “fundo insubornável do ser” na conduta moral dos indivíduos;
sem esquecer as homenagens sentidas a Viktor Frankl ou os estudos comparativos
sobre a Revolução Gloriosa de 1688 por contraposição à Revolução Francesa de
1789, que subscrevo sem hesitar.
Espero que,
em próximas obras, Olavo de Carvalho volte a esses temas. E que abandone de uma
vez por todas os últimos resquícios de marxismo no lugar onde eles pertencem: o
latão de lixo da história.
João Pereira Coutinho é escritor, doutor em ciência política
e colunista da Folha
NOTA: Revolução Gloriosa foi um movimento revolucionário de caráter pacífico,
ocorrido na Inglaterra entre os anos
de 1688 e 1689. Foi
através desta revolução que ocorreu a
troca do absolutismo monárquico pela monarquia parlamentar na Inglaterra.
O COMEÇO - O Mayflower era um navio inglês que
transportou os primeiros puritanos ingleses, conhecidos hoje como os
peregrinos, de Plymouth, na Inglaterra, para o Novo Mundo em 1620.
INDEPENDENCE DAY – 4.JULHO.1776 – RESULTA DESSAS
COLONIAS de emigrados em busca de libertação do poder absoluto dos governos
estatizantes.
FEUDAIS infiltrados na Revolução Francesa (1789)
que se dizia prosseguir a revolução do American Dream, formaram essa mistura
fecálica de direitas e esquerdas, pratinho (fedorento né?) com que se deliciam
os trevosos, nebulosamente reconhecidos como “poder onipresente e invisível”
acima. NEM OLAVO, NEM CALIL, NEM COUTINHO, NÃO DESCONFIAM DE NADA, NÉ?
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