General que criticou Comissão da Verdade perde cargo no Exército
Por Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
Por Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
Disposto a abafar o mais rápido possível um novo foco de crise nas Forças Armadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva endossou ontem a decisão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de exonerar o general Maynard Marques de Santa Rosa do cargo de chefe do Departamento Geral de Pessoal do Exército. Santa Rosa criticou, em carta publicada na internet, a Comissão da Verdade, criada pelo governo para investigar crimes de violação aos direitos humanos durante o regime militar.
O general classificou-a como "comissão da calúnia", dizendo que era composta por "fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos como meio de combate ao regime para alcançar o poder". Lula, que é comandante-em-chefe das Forças Armadas, afirmou que o afastamento do general era necessário para que "fique claro que não vai aceitar" esse tipo de comportamento.
O artigo circulava na internet havia um mês e era de conhecimento de Jobim. Mas ontem, com a divulgação de trechos pelo jornal Folha de S. Paulo, o ministro entendeu que a declaração ganhara repercussão demais. Em seguida, Jobim conversou por telefone com o comandante do Exército, general Enzo Peri, que estava em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.
Segundo nota do Ministério da Defesa, "diante do caso, o comandante do Exército sugeriu que a providência solicitada pelo ministro fosse a exoneração do oficial-general, proposta aceita e imediatamente encaminhada à apreciação do presidente".
SOLUÇÃO
Embora a exoneração não tenha agradado aos militares, o caso não deve ter novos desdobramentos. A maioria dos oficiais-generais entende que Jobim já tinha "comprado a briga" contra as posições consideradas radicais do secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.
Os militares entendem que o assunto foi bem conduzido por Jobim, em meio aos debates do Plano Nacional de Direitos Humanos. Além disso, Lula modificou trechos do documento que desagradavam à caserna.
Este foi mais um embate do general com Jobim. Santa Rosa era chefe da Secretaria de Política e Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa, quando, em depoimentos no Congresso, criticou as organizações não-governamentais que atuam na Amazônia. Acabou colaborando para a criação da CPI das ONGs. Também discordou do emprego do Exército ao lado da Polícia Federal para retirar invasões da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima.
Esses posicionamentos lhe custaram o cargo e Santa Rosa acabou sendo devolvido ao Exército para a chefia do Departamento Geral de Pessoal, para cuidar de questões burocráticas, longe de ações de comando.
Desta vez, o general não foi poupado. Exonerado, ele permanecerá adido ao gabinete do comandante, sem função, até 31 de março de 2010, quando completa 12 anos de generalato e será compulsoriamente transferido para a reserva. Isso ocorreria mesmo sem o incidente.
Assim que soube da carta, Lula avisou que precisava conversar com Jobim. Antes do início da posse do novo ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, Jobim foi ao presidente para informar que decidira afastar o general. "É isso mesmo", endossou Lula, avisando que assinaria imediatamente a exoneração.
Santa Rosa, já sabendo da sua demissão, almoçou normalmente no Quartel-Geral do Exército, ao lado de outros generais. Embora um pouco abatido, confidenciava que não tinha nada a perder e apenas havia escrito aquilo em que acreditava.
RUSGAS
Jobim já se desentendeu com outro general, Luiz Cesário da Silveira Filho, ex-comandante Militar do Sudeste, no Rio. Cesário havia repudiado a edição do livro Direito à Verdade e à Memória, editado pela Secretaria de Direitos Humanos, e provocou uma crise militar. Naquele episódio, ao contrário do atual, Silveira Filho obteve o apoio de seus colegas de farda e não foi punido com a perda do cargo.
COMENTÁRIO - Parece que os militares estão renovando a tropa e participando dos diálogos com a sociedade e com o governo. Estamos trazendo ao nosso Grupo de Estudos Avançados também a opinião dos Soldados porque são as Forças Armadas quem tem que ser ouvido a respeito das Estratégias de Defesa da Nação pois só existem para isso. Perguntam-me se estes pronunciamentos podem significar uma nova intervenção militar no Governo. Tenho que responder que os atuais membros das Forças Armadas são francamente anti-corrupção e são Socialistas Moderados quanto às estatizações e francamente também a favor da Iniciativa dos cidadãos na Economia, desde que o Poder Central se mantenha forte e unitário. No desenrolar dos fatos teremos definições de posições em relação à política. Não acreditamos que tomem partido contra ou a favor de Dilma Roussef, nem de José Serra.
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