sábado, 6 de setembro de 2008

CARTAS DE MÃE PARA MÃE

TERCEIRA MÃE QUER FALAR
 
Carta enviada de uma mãe para uma mãe em SP, após noticiário na tv:
De mãe para mãe...


'Hoje vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, das dependências da FEBEM em São Paulo para outra dependência da FEBEM no interior do Estado. Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela transferência. Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação,
contam com o apoio de comissões pastorais, órgãos e entidades de defesa de direitos humanos.
Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto.Quero com ele fazer coro.
Enorme é a distância que me separa do meu filho. Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha,  para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual. Se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem  que o seu filho matou estupidamente num assalto a uma videolocadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite. No próximo domingo, quando você estiver se abraçando, beijando e fazendo carícias no seu filho,  eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo... Ah! Ia me esquecendo: mesmo também ganhando pouco e sustentando a casa, pode ficar tranqüila, viu?
Que eu estou pagando meus impostos em dia, de forma a ajudar o governo a comprar colchão novo, 
substituindo o que seu querido filho queimou lá na última rebelião da Febem.'
Recebi essa carta e esta madrugada ouvi no silêncio uma outra mãe que protesta:
 
"Eu também quero falar e ninguém me ouve.
Leio a carta  e também ouvi o protesto. Fico na maior agonia aqui onde estou.
Não sei onde está o meu filho. Se ainda vive. Se conseguiu a bolsa-esmola para votar nos irresponsáveis continuarem roubando os impostos expropriadores. Ou se está conseguindo pagar esses impostos torturado noite e dia em algum negócio. Se está atravessando mil perigos imigrando entre povos estranhos. Se conseguiu matar alguém e está na FEBEM com casa e comida planejando outros crimes maiores. Se conseguiu uma vaga para vender drogas nalgum morro. Se foi outra vaga mais rendosa na senzala a serviço dos corruptos. Se está engordando seu ódio de vingador ou torturador a serviço do Trevoso.
Eu só sei que ele partiu pelo mundo e nunca mais voltou. O pai dele também não sei dele. Fiquei só. Passei fome. Tive sede. Chorei. Gritei e ninguém me ouviu. Hoje sei que tudo isso acabou. Não há mais fome. Não tenho mais sede. Nem choro. Nem grito. Pela eternidade estarei aguardando que seu drama termine. Vejo os gordos corruptos, vingadores e torturadores caindo um a um nas brasas do Trevoso que engordou seus ódios para serem seu quitute. Sofro a incerteza  sobre qual destino terá o meu filho. Não teve escola. Não sei se sabe ler. Não teve FEBEM. Não foi avisado sobre como será depois. Não tem mãe para falar-lhe. Não tem lar. Não tem governo. Não teve ontem. Não tem hoje.
Nem terá amanhã, nem haverá solução para ele se você que me lê não ouvir o bom senso. Se você não ler e compreender a Oração de Jó, repetida por Jesus Cristo - Pai, perdoa a todos eles e abre-lhes o entendimento. Eles estão sob o poder das Trevas e não sabem o que fazem".
(O Livro de Jó, que explica o sofrimento - veja no site).
 

Um comentário:

romeu prisco disse...

O texto "De mãe para mãe" é de minha autoria. Além dos direitos humanos, impõe-se também respeitar os direitos autorais.

Sds.

Romeu Prisco
(romeu_prisco@yahoo.com.br)