SÃO PAULO - O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), confirmou nesta segunda-feira, 28, em entrevista à Globo News, que se reuniu com o ex-presidente Lula no escritório do ex-ministro Nelson Jobim no dia 26 de abril, e que os três discutiram o julgamento do mensalão.

Segundo Mendes, os três iniciaram a conversa tratando da reposição das vagas dos dois ministros do STF que se aposentam neste ano (Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto), falaram da chamada 'PEC da Bengala' e, em seguida, Lula teria entrado no assunto do mensalão, ressaltando a importância do julgamento e defendendo que ele não ocorresse neste ano, porque não haveria 'objetividade'.

'Eu objetei e disse que não seria possível adiar o julgamento, dada a repercussão e a possibilidade de que dois colegas que participaram do recebimento da denúncia não mais participassem (do julgamento), pessoas bastantes experientes e que me parece positivo que participassem', afirmou Mendes, que cumpriu agenda em Manaus (AM) nesta segunda-feira.

Questionado se Lula teria oferecido uma 'blindagem' em relação às investigações que ocorrem na Comissão Parlamentar de Inquérito do Cachoeira, Mendes afirmou que o assunto 'não foi colocado dessa forma'.

Segundo o ministro, durante a conversa, Lula teria mencionado várias vezes o tema da CPI e o domínio que o governo tinha sobre a comissão. 'Daí eu depreendi que ele estava inferindo que eu tinha algo a dever nessa matéria de CPMI e disse a ele, com toda a franqueza, que ele poderia estar com alguma informação confusa, pois eu não tenho nenhuma relação, a não ser de conhecimento e de trabalho funcional, com o senador Demóstenes', afirmou Mendes.

De acordo com o relato de Mendes, Lula teria ficado assustado com a sua reação e perguntado: 'Mas não tem? E essa viagem a Berlim?'.

'Aí então eu esclareci a viagem, que era uma viagem que eu fizera a partir de uma atividade acadêmica que eu tivera na Universidade de Granada, encontrara com o senador (Demóstenes) em Praga - e isso tinha sido agendado previamente - e então nos deslocamos até Berlim, onde mora minha filha. E eu até brinquei. Eu vou um pouco até Berlim como o senhor vai até São Bernardo', disse Mendes.

O ministro afirmou ainda que ficou 'perplexo' com o encontro, pois sua relação com Lula 'sempre foi muito franca e cordial'. Segundo Mendes, o uso da informação da viagem a Berlim por parte do ex-presidente 'me pareceu absolutamente revelador de qualquer outra intenção sub-reptícia'.